domingo, 4 de março de 2012

A Poesia como "ferramenta".


Salve Pachamad@s!
Disse o poeta Mário Quintana "Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte, não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras."
A poesia nos ajuda a viver, nos prepara para a morte, como disse o poeta, mas, sobretudo prepara para a vida, pois a poesia é um alimento indispensável para a alma, como disse outro poeta Voltaire, "A poesia é a música da alma, e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais."
São essas almas grandes, de homens e mulheres grandes, que lutam pela vida, que ajudam o próximo a ver beleza na aspereza da vida, pois  "O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê..." diz Otto Lara Rezende.
Assim a poesia torna-se instrumento de transformação, alimento pra alma, ferramenta de trabalho, anúncio, denúncia, oração para o espírito.
Pensando na poesia como uma ferramenta no trabalho pastoral e na educação popular, apresento algumas sugestões de Poesias, Vídeos, Blogs, que possam auxiliar e inspirar todo esse nosso trabalho.



UM SONHO
Sérgio Vaz 


Ontem
Eu sonhei o teu sonho.
Sonhei que os soldados,
Cantando e dançando,
Libertando-se de todo mal
Surgiam de todos os lugares
Para velar o funeral
De todo arsenal
Das ogivas nucleares.
No sonho
Os homens não eram escravos
Nem de si
Nem dos outros
Tampouco das cores.
Pois o dinheiro
Havia sido morto
No combate com o amor.
As crianças,
Cravo e canela,
Dançavam com as flores,
Como não tinham fome
Caçavam estrelas
Quando cansadas
Tornavam-se nelas!
Sonhei
Que as mulheres e os homens
Não tinham coisas, mas sentimentos.
E em sinal de alegria
Plantavam suas orações
Não de mãos espalmadas,
Mas de braços dados
Com o milagre do dia.
E Deus – todo pequeno gesto de amor-,
Não freqüentava igrejas,
Livros ou estátuas
Apenas corações...
Ontem
Sonhei o teu sonho

Sem saber que também era o meu



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SÓ DE SACANAGEM


Elisa Lucinda


Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final

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A FRÔ

Emerson Alcalde
Seja como for Seja como flor
Em seca que for cultive o amor
Que ele ou ela virá
Beijará AfroDite dirá
Se precisar afrô afrontará
Mas quem vier pra sentir sem tirar sentirá

Se te plantaram tu é planta
Então seja como flor
Tua semente foi plantada em terra preta
por mãos sofridas
E não no algodão artificial do cientista

Eu falo em nome das rosas despedaçadas pelos cravos cravinhos cravocratas
Ossain olha a mim não esqueça
Seja como for cresça Seja como flor floresça
Não é pra ser florido é pra ser floral
Igual uma cereja no imenso cerejal

Simbolize a paz a morte em maços de florais
Mas principalmente os desejos sexuais
Você tem preço só pro vendedor de flor
Pros amantes tu tens valor

Seja como for negô Seja como for negá
Mas não vai negar
A sua raiz
Ela cresce pra baixo pra você poder subir

No verão se feche pra se nutrir
Depois se abrir e ajudar as outras a florir
Você nasceu na rua foi pisada e tachada de feia
Cresceu fora da mata foi usada e largada após a serenata

Entendeu agora por que não da pra ser florzinha
Que ao ver o guardinha gela?
Tem que ser forte que nem a planta favela
Reagir Resistir
Proteger a sua floribela na primavera
A reprodução

E quando mudar a estação
Não fique parado na anterior
Seja como flor
Floração
O mundo não pára girassol
Cai a chuva e vem o sol
Não se preocupe se isso vier a desbotar a sua cor
Porque a sua essência é vermelha
E será sempre AFRÔ.

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TV  ABERTA
Vandei Oliveira (Seu Zé)

Estou fora do ar
temporariamente desligado.
Estou do lado de fora de mim
na chuva, no telhado.
Suspendi meu juízo,
transcendi, estou desacordado.
Estou fora do jogo,
contundido, expulso e penalizado.
Me sinto out
fora de questão, desatualizado.
Estou fora do tom,
ando meio desafinado.
Fora de moda,
démodé, um brechó não visitado.
Estou do outro lado da rua,
sem faixa, sem farol e atropelado.
Me sinto perdido no mapa,
sem rumo ou gps, desnorteado.
Estou do lado do avesso,
o avesso do avesso revisitado.
Me sinto em terra estrangeira,
sem visto, sem língua, exilado.
Um peixe fora d´agua,
frito, ao molho ou assado.
Me sinto sem chão,
sem terra, retirante desabrigado.
Estou fora da casinha,
louco de pedra, desmiolado.
Me sinto jogado fora,
cuspido, vomitado e esporrado.
Estou do outro lado da janela,
preso, a pão e água, encalacrado.
Estou na beira de um abismo,
sem asas, um pesadelo acordado
Estou em outro corpo,
sem santo, sem guia, desencarnado.
Estou fora de cena,
sem papel, sem futuro, desempregado.
Me sinto um artigo indefinido,
um, uma, verbo conjugado.
Estou em off
totalmente desconectado.

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Segue abaixo links de Blogs de poesia (com recorte da Literatura Periférica), para pesquisa e apreciação:


Vandei Oliveira
Eu sou + 7x7 - IPJ







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O Projeto "Eu Sou + 7 x7" é um curso de formação de lideranças jovens, historicamente voltado para dar suporte ao trabalho da Pastoral da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral e social. O número é 50 (cinquenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Este projeto teve início na PJ da diocese de São Miguel Paulista no ano de 1997 onde aconteceram suas três primeiras edições (Jubileu, Pentecostes e Kairós). Em 2007 o IPJ retomou tal proposta de formação, reformulou a estrutura do projeto, ampliou sua região de abrangência e firmou parceria com a DKA da Áustria. O IPJ já realizou duas edições do projeto (Ruah e Êxodos)e, atualmente, desenvolve mais uma com o Grupo Pachamama. Esta sexta edição do Projeto "Eu Sou+7x7" não envolve apenas jovens da Pastoral da Juventude, mas também de movimento cultural, ecológico e de diferentes denominações religiosas.