sábado, 4 de fevereiro de 2012

"A POESIA MALOQUEIRA"

Por:  Elaine Piccolo e Sandro Lumumba- Estudantes de Sociologia - FESP-SP






“O [Mário] Quintana morreu um dia depois do [Ayrton] Senna, e ninguém ligou.
Eu fiquei uma semana sem comer porque o Quintana morreu, e todo mundo perguntava se era por causa do Senna, eu dizia que sim.
“Foi o Quintana e o Paulo Freire, (...) e os caras chorando por causa do Senna.”
-Fábio Moreira, educador. -

OBJETIVO
“Fica difícil se desenvolver, num espaço pouco desenvolvido.”
Apoiado na obra Capão Pecado de Ferréz, o presente ensaio pretende constatar, através do movimento Arte Maloqueira, a expressão da literatura na periferia. Aqui, verificaremos esta expressão usada como reivindicação de políticas públicas que garantam na periferia o acesso à cultura - direito outrora outorgado somente como simples alternativa.

INTRODUÇÃO
No decorrer de sua obra, Ferréz utiliza da vida cotidiana de seus personagens para retratar o espaço e as condições em que os mesmos vivem: a periferia. Em diferentes momentos, dá voz à manifestação artística, seja na música citada ou na fala de um de seus personagens, mas dá voz à cultura. Entretanto, uma cultura que muitas vezes não se assemelha ao estereotipo de cultura que é comumente conhecido, e apresentado. Modelo o qual também não é aplicável a todo modo de vida, e por isso, tão pouco sentido e raramente vivido, mas, necessariamente tido como fator excludente de uma maioria.
“Então se liga, os playbas têm mais oportunidade, mas na minha opinião,
Acho que temos que vencê-los com nossa criatividade, ta ligado?
(...) Com o que temos de melhor, o nosso dom...”
(Capão Pecado)
Ao nos encontrarmos com o grupo Arte Maloqueira, a fala presente em Capão Pecado torna perceptível um movimento de pessoas que deixam de ser sujeitos passivos para tornarem-se agentes da efetivação de seus direitos. Aqui almejam por uma cultura verdadeira, e a disseminam a partir de uma atividade expressiva e criadora que envolve cultura e sociedade a partir de diferentes realidades, daquelas ditas, vividas, e as que ainda podem ser construídas.
Desta forma, cultura, assim como vemos em Radicliffe Brown, não é somente o desígnio de uma forma de vida social, mas o cultivo, processo e meio pelo qual o individuo – e as coletividades – adquire conhecimento, especialidade, idéias, crenças, gostos e sentimentos, mediante contato com a arte.

1. MOVIMENTO ARTE MALOQUEIRA
O Movimento Arte Maloqueira surgiu com a iniciativa de jovens e moradores de Guaianases, região Leste da cidade de São Paulo que afirmam ter percebido e entendido que a região não é atendida pelo poder publico, e que por isto está desprovida e distante de uma grande quantidade de políticas sociais que podem melhorar as condições de vida dos habitantes tanto de sua região, mas também dos habitantes das periferias em geral, assim como explica Richard David, um dos organizadores.
O nome Arte Maloqueira foi proposto com a idéia de desmistificar e contrapor o uso pejorativo da palavra maloca, que inserida num contexto social é comumente associada a pessoas de pouca estirpe, de mau comportamento, e assim por diante. Para o grupo, faz-se voz ao seu significado dentro do conceito indígena, que se associa também á região. Guianases foi constituída do aldeamento de índios, dos Guaianases, e para estes maloca é a habitação humilde. Para o grupo, o termo “maloqueira” se distancia do popularismo, e se refere à arte feita nas malocas, ou seja, nas habitações humildes comuns na periferia.
A idéia de se fazer um projeto com o movimento, surgiu da união do secretário de Cultura de Guaianases com o grupo que, em um Seminário do Arte Maloqueira, pensaram as propostas em relação aos objetivos do grupo, que dialogam com as necessidades intrínsecas no modo como as manifestações culturais movidas pelo Estado, ou não, são observadas, absorvidas, e digeridas, e a partir daí processadas dentro de determinado contexto social.
A partir de então, com um projeto de realização de Saraus, o objetivo do grupo se expande e se diversifica, ao passo que também se unifica. Um dos principais ideais é democratizar e descentralizar o uso e emprego de verbas públicas para espaços públicos que são utilizados para o desenvolvimento cultural. Um dado apresentado pelo grupo aponta que nos dezesseis distritos do extremo leste de São Paulo, constam seis equipamentos públicos culturais, enquanto que somente na região da Consolação, são cinqüenta e um equipamentos públicos de cultura.
O termo democratização é utilizado porque, o uso dos espaços públicos é direito de todos, mas, não se faz efetivo. Para um dos organizadores do evento, o educador formado em letras pela Universidade de São Paulo (USP) Fábio Moreira, o espaço público pertence à comunidade, portanto, já é da comunidade por direito, e assim, não precisa ser reapropriado.
Entretanto, há ainda o uso do termo apropriação do espaço publico. Da apropriação o grupo entende que o espaço público deve ser apropriado pela comunidade, e reformulado em seus moldes de operação de modo que atenda a necessidade peculiar da periferia. Assim a população passa a ter o sentimento de pertencimento daquilo que antes, embora existisse não lhe era comum. “Queremos mediar, acolher e manifestar a cultura, porque na periferia há muita gente, tem gente tocando violão, escrevendo poemas, e essas pessoas precisam de um espaço para se manifestar.” (Renildo da Silva Oliveira, um dos organizadores do Movimento.)
Atualmente os saraus acontecem na Biblioteca de Guianases, onde se apresentam os itens de reformulação que o grupo traz. Para eles, o espaço da biblioteca remete a uma nova discussão. Biblioteca é normalmente apresentada como um espaço para pesquisa, onde reina a ditadura do silencio,
e seu horário de funcionamento costuma ser o horário comercial. Ressalvam então que a realidade das pessoas na periferia não permite o usufruto da biblioteca durante o horário comercial e tão pouco, acesso à leitura em ambientes onde predomina o silencio. O horário em questão é o mesmo horário em que a população, em sua maioria, está trabalhando; o ambiente, não condiz com aquele superficialmente imaginado de espaço para leitura, pois na periferia “o cidadão muitas vezes faz de um único cômodo, sua casa inteira”. E, conforme ainda nos relatam: ”Ora, se um livro, ou um texto me causa uma determinada emoção, não posso compartilhar com meus amigos: ouço o pedido de respeito pelo silencio. Então me pergunto, mas, ninguém respeita minha expressão?”.
Para o grupo, a biblioteca deve garantir a oportunidade da expressão de todos, pois a regra do silêncio, inibindo a possibilidade da mesma diante da leitura, impossibilita que se socialize o aprendizado. Por tudo isto, o Sarau começa ás 17:00 no sábado, e utiliza de aparelhos de sons, musica ao vivo, e um convite à expressividade.
Notamos que as manifestações artísticas as quais os artistas da periferia se apropriam como verdadeiras armas de guerra, tem a necessidade de emergir do erudito. Percebemos no Sarau a presença da MPB e do Rap, cantado como expressão dialética em formato de poesia periférica, que é esclarecido pelo rapper: “Poesia, apenas com um pouco mais de ritmo”, onde também se descola a imagem da biblioteca do conceito elitista vinculado a sua imagem na periferia, ou seja, de um prédio freqüentado somente por “letrados”, assim como narrou o grupo.
Todo este projeto visa colocar na pauta da cidade o debate de diversos temas, tais como a educação de qualidade, e a necessidade de espaços culturais e esportivos. Todavia, para o grupo, este debate não nasce dos representantes políticos, mas sim da manifestação daqueles que são prejudicados pela ausência, e começam a se manifestar. O grupo percebeu pois, que de fato, é preciso iniciativa, e que esta surge também de uma inquietação e um desconforto, porque para os moradores da periferia, o acesso à cultura é viabilizado como alternativa para retirar o jovem das drogas e da criminalidade. Entretanto, não se trata de alternativa, mas de um direito:
“Art. 3º: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Direito que justamente está ausente, mas se presente, somaria para o crescimento e desenvolvimento da região – e das periferias e seus moradores de modo geral. Uma vez que se nota uma contradição profunda na hora de fazerem valer estes direitos, a questão passa a ser então, de reivindicação por políticas publicas de cultura.

2. POLITICAS PUBLICAS DE CULTURA
Ainda que seja um debate sobre a cultura, e com um pouco de ênfase no lazer daquela população, há um caráter extremamente político, pois o grupo discute e questiona o porquê daquelas condições de vida, o porquê o cidadão da periferia não é associado à leitura, não tem o hábito de ler, por que precisa seguir um padrão determinado por uma classe que não conhece outras realidades, e, aliás, o porquê de outras realidades, como se criou tais pensamentos, de onde vêm tantas prescrições.
Mais de cinqüenta por cento da população de São Paulo mora na periferia, dos trezentos e um Pontos de Cultura na cidade, apenas trinta se encontram nas periferias. É fácil constatar que o alvo do ministério da Cultura não é essa população. Um dos organizadores do Sarau Arte Maloqueira, Pedro, nos relata que eles não estão excluídos da sociedade, mas sim, inseridos de uma forma perversa. E é por esta constatação, que sabem que é estritamente preciso se organizar e se mobilizar para assim, transformar a estrutura que já está estabelecida. Afinal, aqui fazemos breve alusão à Rosa Luxemburgo:
“Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem."
A intenção do grupo, entretanto não é fazer o papel do Estado, mas contribuir enquanto comunidade, e assim, cobrar do estado o seu papel. A intenção, é que se tenham políticas publicas de cultura, pois, um projeto, um grupo, ou uma ação isolada não conseguirá trazer isto a todos, e no caso, o Arte Maloqueira não está pensando num circulo pequeno de pessoas, mas em todos aqueles que estão na mesma situação, na periferia. Entendem que construir bibliotecas não fará mais leitores, mas que é preciso também criar meios de interagir, de tornar possível e mesmo atraente o acesso e a utilização da cultura.
Ao serem questionados sobre a possibilidade de se tornarem Ponto de Cultura, o grupo diz que isso é o maior “BO”, gíria comum na periferia que diz respeito a algo difícil, complicado, pois a burocracia em torno de se conduzir os projetos no formato de Ponto de Cultura é ao seu modo de ver inviável. Trata-se, portanto de um projeto com o sentido de parceria, onde um, não se submete a exigência do outro, mas se une. “Entretanto, ainda assim persistem atritos com o poder publico, que permanece com um vicio autoritário.” – Esclarecem.
Antes do Sarau, acontece uma Roda de Leitura, onde as pessoas são convidadas para não somente preparem o Sarau, mas discutirem as questões reivindicadas citadas anteriormente. Além disso, o grupo surge com pessoas que já estão envolvidas em outros projetos, na luta por tantas questões com que dia a dia, pela realidade da periferia, são encarados.
Estabelecendo que a reivindicação por políticas públicas de cultura é a unificação de seus objetivos o grupo se afasta de um ideal romântico para não se deixar levar por falsas conquistas, e se afirma na convicção de sua ação, e como a mesma permanece perante as transformações que surgem ou não, justamente para manter consciência e discernimento para prosseguir, pois, não basta articular um projeto, é preciso garantir a qualidade de vida de cada cidadão perante um direito que constitucionalmente lhe é assegurado, e que por isso, é reivindicado, para torná-lo vigente como direito concretamente
possível, e não como alternativa oferecida à periferia, a fim de causar-lhe algum bem paliativo.

3. A POESIA MALOQUEIRA
A utilização, pelo grupo, da poesia em torno dessa discussão traz claramente o uso de uma ferramenta que dá voz às suas realidades, aos seus pensamentos, as suas utopias.
Sergio Vaz, em um de seus poemas relata:
“...O Tal poema, que desfilava pela academia, de terno e gravata, proferindo palavras de alto calão para platéias desanimadas, hoje, anda sem camisa, feito moleque pelos terreiros, comendo miudinho na mão da mulherada.
Vocês, por acaso, já ouviram falar do tal poema concreto?
Pois é, os trabalhadores e desempregados estão construindo bibliotecas com eles, nas favelas. E o lobo mau pode assoprar que não derruba.
Apesar da pouca roupa que lhe deram está se sentindo todo importante com sua nova utilidade.”
Aqui podemos nos referir ao uso do sarau como meio efetivo da proposta de reivindicação apresentada pelo grupo. A poesia faz-se um manifesto não somente pelo que é, mas pelo que pode fazer. Ressaltamos, porém, que o grupo faz questão da utilização de diferentes ritmos e tipos de arte, pois a ideia é justamente não reduzir o modelo, mas diversificá-lo.
Quando falamos na questão da disseminação de uma arte que dá voz à demandas sociais, o livro Capão Pecado nos mostra a periferia também como um turbilhão de emoções, sonhos e frustrações. Assim como diz em uma de suas letras, o Racionais Mc`s, grupo musical do Capão Redondo, que também faz de sua poesia, sua música um objeto político, na periferia é: “...Um coração ferido por metro quadrado...”, assim como um gigante adormecido que vez em quando faz emergir um monstro poderoso de rimas e batidas envolventes.
Esse monstro com sua voz “cavernosa” arrebata assustadoramente os meios de comunicação e domina as prateleiras das lojas de discos, gerando uma discussão latente por exemplo no Movimento Hip Hop. A chamada “elite” se vê dominada pelo ritmo e letras agressivas, contestando a discrepância social evidente entre periferia e centro.
Surge então a pergunta: Até que ponto a “elite” se envolve verdadeiramente nas questões levantadas nas letras dos Racionais Mc`s, e de tantos outros? Essa questão é viva e chama atenção porque as letras narram sofrimentos e agonias inerentes simplesmente ao cidadão nascer na periferia. A “elite” então se envolve de forma puramente superficial, devido ao fato óbvio daquelas narrativas lhes serem estritamente lúdicas.
A música “Da ponte pra cá” (Racionais Mc`s) fala justamente de como o grupo percebe essa “pseudo” apreciação:
“...Playboy bom é Chinês,Australiano, fala feio e mora longe, não me chama de mano... ...Um Triplex pra coroa é o que o malandro quer, não só desfilar de Nike no pé.
Ô, vem com a minha cara e o din-din do seu pai, mas no role com nós cê não vai.
Nós aqui, vocês lá, cada um no seu lugar. Entendeu? Se a vida é assim, tem culpa eu?...”
Parece-nos, que como uma criança que observa admirada um animal selvagem pelas grades de uma jaula no Zoológico, a “elite” olha para a expressão poética que emerge da periferia com toda sua potencia político-ideológica, admira, dança, até decora as extensas letras que retratam seu cotidiano, desde que a periferia a que se referem permaneça distante, isolada pela Ponte João Dias, no caso do Capão Redondo. A periferia fruto da indevida exclusão de uma grande parcela da população é um gigante que não se encontra somente adormecido, mas esquecido por um Estado omisso e ausente, mas também faz com que o próprio Estado o observe e sinta que esse gigante é capaz de vomitar e fazer emergir tantos monstros da lagoa, como também aconteceu com o Movimento Mangue Beat, do Recife. A periferia mostra que o despertar deste monstro pode se erguer através da poesia, em suas diferentes formas. Assim, distante de um olhar frio e calculista da “elite”, os movimentos culturais pulsam na periferia, e insistem em nascer no deserto inóspito da sua existência.

4. CONCLUSÃO
Em um momento da entrevista, Van, um dos organizadores, nos revela que o grupo tem a consciência de que o Sarau pode não elevar o nível de leitura da comunidade. Ora, naturalmente a pergunta que muitos se remetem imediatamente é: “O porquê então de tanto esforço?!” Van ainda nos conta a respeito de um senhor que certo dia foi conhecer o sarau. Ele se encantou de tal maneira que voltou empolgado pra casa, e no final de semana seguinte retornou com o filho. Ali no sarau então, observava o filho perceber que a leitura também podia ser “legal.” Neste momento, estabeleceu uma educação emoldurada na literatura, diferente do comum, pois como o grupo diz, uma criança da periferia não vê seu pai ler, e não adquire este hábito.
Ao observá-los com tamanha vontade de gritar ao mundo, o grito é associado ao livro de Ferréz, aonde vemos o grito dos excluídos e marginalizados, contra as discrepâncias do sistema. No sarau tal grito é sintetizado através de sua “Arte Periférica”, condensado tanto no movimento Hip Hop, com suas letras e batidas agressivas quanto na MPB que transporta uma manifestação. Sua “Poesia Marginal”, assim como no livro O Capão Pecado, aparece por exemplo na voz de Sérgio Vaz, muito citado no Sarau. Ocorre ainda o grafite, por sua vez, colorindo os muros pálidos e cinzentos de nossa cidade com o “grito” daqueles que se expressam contra as injustiças possuindo como ferramentas algumas finas camadas de tinta.
Ao imaginarmos um ambientalista que sobrevoa e espalha sementes por uma área florestal devastada, e que o faz sem imaginar que talvez a alguns quilômetros dali, tratores vorazes com suas grossas correntes derrubam dezenas de árvores em minutos, saberá ele quais sementes germinarão daqueles milhões que voam e se dissipam pelos ares através do seu ato?
O que se sabe é que, como por um instinto de fazer algo pelo planeta, e talvez, por suas futuras gerações, o ambientalista age, sem ter nenhuma convicção do resultado que sua ação alcançará, mas com a certeza que tal gesto não cessará o desmatamento seja em qual contexto este esteja inserido.
Assim lançamos nosso olhar científico para aquele Sarau, que faz ecoar seu grito por aquelas paredes rodeadas de livros, onde poucos escutam, lançando suas sementes literárias e culturais, sem saber quais germinarão, mas com a consciência que a quilômetros dali, no centro da cidade, os administradores do bem público pensam em como não incluir a periferia nas suas políticas públicas, políticas públicas estas que, estando longe da periferia passam como tratores vorazes com suas correntes por cima de inúmeros movimentos culturais que nascem nas periferias e morrem como as luzes de vaga-lumes na escuridão da floresta.
“ Então se Liga, os playbas têm mais oportunidade, mas na minha opinião, acho que temos que vencê-los com nossa criatividade, tá ligado?
(Capão Pecado)
Retomando o trecho extraído do livro de Ferréz ressaltamos um chamamento pra se construir algo a partir da falta de recursos, intrínseca nos movimentos culturais da periferia, O Sarau do Arte Maloqueira nasce como
tantos outros não citados aqui, como um instinto do seu coletivo por uma nutrição que é direito garantido na constituição do nosso país, nutrição cultural que hoje, ao olhar do grupo se encontra concentrada no centro da cidade, distante da periferia, para benefício de poucos. Porém, onde o Estado não chega, a periferia, este lugar inóspito, hostil, há, no sentido amplo de existir e viver um povoamento de pessoas com desejos e vontades que vão além da necessidade de sobrevivência de servir a elite, elite que lhe paga banalmente por sua mão de obra, achando ainda, que pagam muito, assim como retrata, em Capão Pecado o episódio em que Rael vai buscar o salário da mãe no bairro da Liberdade.
Essa população por si só, decide formar seus coletivos em busca de se dar uma oportunidade de nutrição cultural num ambiente desfavorecido pela ausência do Estado. O Sarau do Arte Maloqueira lança seu “grito” em Guaianases não em busca de seus interesses, mas de seus direitos, movidos por um instinto que sempre levará essas pessoas a buscarem o que deveria lhes ser dado, lhes ser permitido.

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O Projeto "Eu Sou + 7 x7" é um curso de formação de lideranças jovens, historicamente voltado para dar suporte ao trabalho da Pastoral da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral e social. O número é 50 (cinquenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Este projeto teve início na PJ da diocese de São Miguel Paulista no ano de 1997 onde aconteceram suas três primeiras edições (Jubileu, Pentecostes e Kairós). Em 2007 o IPJ retomou tal proposta de formação, reformulou a estrutura do projeto, ampliou sua região de abrangência e firmou parceria com a DKA da Áustria. O IPJ já realizou duas edições do projeto (Ruah e Êxodos)e, atualmente, desenvolve mais uma com o Grupo Pachamama. Esta sexta edição do Projeto "Eu Sou+7x7" não envolve apenas jovens da Pastoral da Juventude, mas também de movimento cultural, ecológico e de diferentes denominações religiosas.